A aula deveria começar em instantes. Tínhamos ouvido o sinal havia poucos minutos, mas bem antes disso eu já estava no meu lugar, o livro de Português em cima da carteira.
Denílson, Caio e Fred faziam questão de marcar presença na entrada da sala. Falavam alto, riam escandalosamente, uma baderna. Impossível passarem despercebidos aos olhos de qualquer um de nós e acredito que nem fosse mesmo a intenção.
Esses eram os meninos que atormentavam o Léo. Muita gente sabia, mas a grande maioria ignorava.
Dali em diante, porta adentro, o óbvio.
Denilson e Caio na frente, Fred um pouco mais atrás, os três passando pelo estreito corredor onde ficava a carteira do Léo. Tão logo chegavam perto, a simulação de um tropeço, um esbarrão, ou algo semelhante como se tudo não passasse de inocente brincadeira.
- Opa! – e o súbito arremesso dos objetos ao chão.
Era um opa cínico, dissimulado, muitos alunos riam abertamente sem motivo para disfarces.
- Desculpa aí, Leitão.
Um desculpa aí debochado, quase nojento de ouvir.
- Pede desculpa não, Denílson! Não vê que a carteira dele é que tá torta, na passagem? Arruma isso aí, Gordo! – e Caio ria, um prazer desmesurável.
Léo procurava juntar tudo o mais rápido possível e então livrar-se da vergonha de se ver ajoelhado à caça de seus pertences. Porém, tanto esforço parecia não lhe valer para coisa alguma, pois quanto mais se apressava buscando uma agilidade que não tinha, mais atrapalhado ia ficando e os objetos escorregando das mãos feito sabonete.
Fred, por último, arrematava com chutes, inventava um sem querer, fingia um não vi, e lá iam canetas, lápis, borracha ou a própria mão do Léo na sua mira perversa.
Agora os três amigos partiam para as próprias carteiras, acomodando-se em meio ao riso, ao deboche e à malandragem, companhias indissociáveis deles.
Aos poucos, os alunos iam se dispersando, o assunto era substituído, Léo perdia a graça e deixava de ser o foco das atenções. Quando fosse ver, ninguém mais se lembrava do episódio. Tudo morto, enterrado e esquecido.
- Bom dia! – era a professora Luciana entrando na sala.
Léo já recolhera todas as suas coisas, mas o embaraço e o nervosismo de minutos atrás ainda lhe marcavam o rosto sem dó. Vermelho. Eu vi. Alguém mais deve ter visto, mas ninguém falou nada. Nem eu.
- Vocês se recordam de onde paramos? Fizeram em casa os exercícios da página 32? Vamos lá, pessoal. Se alguém deixou de fazer vai ficar complicado porque eu disse que a matéria de hoje…
Léo continuava vermelho. A pele muito clara corava com facilidade e seus cabelos loiros, bem curtinhos, realçavam ainda mais o rosto redondo.
Mantinha-se cabisbaixo, olhos rasantes sobre o livro, buscando, de maneira rápida e desajeitada, a página indicada. Estava sério, a expressão de quem controla um vulcão dentro do peito. Acho que era isso. Um vulcão.
Página 32. Qual a importância do conteúdo da página 32? Quantas páginas seriam necessárias para descrever o tormento do Léo? E o meu?
Eu via o que faziam com o Léo, via, sim, e não concordava. Mas era impossível defendê-lo.
Eu não conseguia defender nem a mim mesma.
Denílson, Caio e Fred faziam questão de marcar presença na entrada da sala. Falavam alto, riam escandalosamente, uma baderna. Impossível passarem despercebidos aos olhos de qualquer um de nós e acredito que nem fosse mesmo a intenção.
Esses eram os meninos que atormentavam o Léo. Muita gente sabia, mas a grande maioria ignorava.
Dali em diante, porta adentro, o óbvio.
Denilson e Caio na frente, Fred um pouco mais atrás, os três passando pelo estreito corredor onde ficava a carteira do Léo. Tão logo chegavam perto, a simulação de um tropeço, um esbarrão, ou algo semelhante como se tudo não passasse de inocente brincadeira.
- Opa! – e o súbito arremesso dos objetos ao chão.
Era um opa cínico, dissimulado, muitos alunos riam abertamente sem motivo para disfarces.
- Desculpa aí, Leitão.
Um desculpa aí debochado, quase nojento de ouvir.
- Pede desculpa não, Denílson! Não vê que a carteira dele é que tá torta, na passagem? Arruma isso aí, Gordo! – e Caio ria, um prazer desmesurável.
Léo procurava juntar tudo o mais rápido possível e então livrar-se da vergonha de se ver ajoelhado à caça de seus pertences. Porém, tanto esforço parecia não lhe valer para coisa alguma, pois quanto mais se apressava buscando uma agilidade que não tinha, mais atrapalhado ia ficando e os objetos escorregando das mãos feito sabonete.
Fred, por último, arrematava com chutes, inventava um sem querer, fingia um não vi, e lá iam canetas, lápis, borracha ou a própria mão do Léo na sua mira perversa.
Agora os três amigos partiam para as próprias carteiras, acomodando-se em meio ao riso, ao deboche e à malandragem, companhias indissociáveis deles.
Aos poucos, os alunos iam se dispersando, o assunto era substituído, Léo perdia a graça e deixava de ser o foco das atenções. Quando fosse ver, ninguém mais se lembrava do episódio. Tudo morto, enterrado e esquecido.
- Bom dia! – era a professora Luciana entrando na sala.
Léo já recolhera todas as suas coisas, mas o embaraço e o nervosismo de minutos atrás ainda lhe marcavam o rosto sem dó. Vermelho. Eu vi. Alguém mais deve ter visto, mas ninguém falou nada. Nem eu.
- Vocês se recordam de onde paramos? Fizeram em casa os exercícios da página 32? Vamos lá, pessoal. Se alguém deixou de fazer vai ficar complicado porque eu disse que a matéria de hoje…
Léo continuava vermelho. A pele muito clara corava com facilidade e seus cabelos loiros, bem curtinhos, realçavam ainda mais o rosto redondo.
Mantinha-se cabisbaixo, olhos rasantes sobre o livro, buscando, de maneira rápida e desajeitada, a página indicada. Estava sério, a expressão de quem controla um vulcão dentro do peito. Acho que era isso. Um vulcão.
Página 32. Qual a importância do conteúdo da página 32? Quantas páginas seriam necessárias para descrever o tormento do Léo? E o meu?
Eu via o que faziam com o Léo, via, sim, e não concordava. Mas era impossível defendê-lo.
Eu não conseguia defender nem a mim mesma.
(1º capítulo do livro Perseguição, Ed. Saraiva.)
OLá! Fiquei sabendo que estarás na LIVRARIA VANGUARDA na próxima semana! Que legal! Quando chegares nos conheceremos, pois trabalho nessa Livraria.
ResponderExcluirwww.rodycaceres.blogspot.com
Abraços.
amei,vo compra!!!!!
ResponderExcluirCom esse capítulo percebemos a importância desse livro. Todo professor precisa lê-lo, pois muitas vezes acontece isso em nossa sala de aula, assim devemos estar preparadas para uma intervenção.
ResponderExcluirEu li toda a história!
ResponderExcluirExelente seu livro.
ResponderExcluirEm minha escola esse livro é trabalhado e foi muito importante para a minha vida, este livro.
Parabéns!!!
Tânia, tudo bem? Trabalhei neste bimestre com o livro "Perseguição" nas sétimas séries e eles adoraram a leitura. O tema presente ainda está rendendo muita discussão e Campanha na escola!
ResponderExcluirAbraço,
Fátima.
Que bom que gostaram, Fátima! Dê um beijão neles por mim!
ResponderExcluirTânia, tudo bem? Trabalhei neste trimestre com o livro "Perseguição" na 6ª série, e eles adoraram o livro, a leitura, o conteúdo e tudo mais. Tânia, você poderia me mandar um resumo desse livro? Bom, eu necessito apresentá-lo e como é longo, eu não tenho essas aulas, e o ano já está acabando, o que dificulta minha atuação. Bom, agradeço desde já. Parabéns
ResponderExcluirVítor, me desculpe, não sei porque só hoje apareceu este comentário para mim. Puxa, faz muuito tempo! Que será que houve?
ResponderExcluirAbraço e espero que tenha dado tudo certo. Se quiser novo contato, meu e-mail é taniamartinelli@terra.com.br