sexta-feira, 18 de maio de 2012

TEMPO DE ROSAS - TRECHO

ROSEIRAL

Pela manhã, assim que a porta da sala era aberta, a primeira coisa que entrava pelas narinas era o cheiro de terra molhada e flor. Bom de sentir. Não só sentir. Gostava de ver os respingos transparentes colados no veludo vermelho. Tomava jeito de admirador de obra de arte mesmo com aquele tamanhinho. Aquela cara de menino arteiro. Como resistir ao colorido tão intenso e perfumado sem chegar perto, sem tocar, sem roubar o momento para si?
 – Ai!
Wellinton pressionou o dedo indicador e a minúscula gota vermelha ganhou volume diante dos seus olhos atentos. Fez uma careta, algo entre dor e nojo. Sentia uma repulsa, sim, sangue era uma coisa nojenta. Quando se ralava nas brincadeiras podia aguentar tudo, marca roxa de batida, joelho esfolado, casca. Menos sangue.
 – Quantas vezes eu já disse? Fica longe daí, rosa tem espinho.
Wellinton limpou o dedo na bermuda e chacoalhou a mão diversas vezes. Deu um último sopro antes de ver o avô deitando a mangueira na terra, trocando passos na sua direção. Sem perder tempo, escondeu os braços atrás das costas, como se assim pudesse reverter o feito.
– Cadê?
Seu Clovis não esperou resposta, a pergunta não era para ser respondida, e foi logo tirando a pequena mão do esconderijo, vasculhando tudo a fim de descobrir algum espinho debaixo da pele.
– Você, hein, Wellinton?
O menino não ergueu a cabeça, só os olhos é que se moveram para cima e espiaram a cara zangada do avô. Sentia incômodo, claro, seu Clovis não tinha lá muita delicadeza com as mãos. Não, as mãos não eram mesmo delicadas, eram rudes, traziam a aspereza de quem vive lidando com a terra. Mesmo assim, Wellinton não disse nada. Não era bobo de levar mais uma bronca. Era tanto cuidado com o roseiral, ninguém podia encostar um dedo, que Wellinton tinha a impressão de que o lugar era sagrado. Inviolável, como tesouro que não se toca, mal se olha. Teria algo proibido lá? Escondido no meio das rosas vermelhas ou ainda enterrado naquele chão que o avô revirava todo santo dia sem se cansar?

Um comentário:

  1. olá Tania parabéns por mais um livro publicado!
    se vc tiver um tempo visita meu blog
    leilaseleguini.blogspot.com.br
    e deixa um recado,
    abraços,
    Leila

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