segunda-feira, 22 de julho de 2013

FIOS E NÓS - TRECHO

Lia sentiu-se a pessoa mais estranha do mundo. Desceu do carro estacionado em frente à casa amarela de portão branco e mudou apenas dois ou três passos, sem a menor pressa de avançar um pouco mais. Deu uma longa espiada ao redor, até onde a vista alcançava. Tinha o olhar arisco de um pássaro assustado, uma estranheza que lhe pesava o corpo, um descontentamento. O que viria pela frente? O que poderia vir?  

João Carlos e Maria Tereza retiravam a bagagem do porta-malas, entusiasmados. Tanto, que mal paravam de falar, uma tagarelice. Lia mirou os dois por um momento, grudou os olhos naquela alegria que não era sua, só deles. Será que a enxergavam?

A garota baixou a cabeça, agora prestando atenção em si mesma. Subiu um dos braços que estavam junto ao corpo e, lentamente, foi passando a mão pela barriga algumas vezes.

De novo isso?, pensou.

Então foi ficando irritada, nervosa e de mau-humor, tudo ao mesmo tempo, porque por mais que tentasse, por mais que quebrasse a cabeça de tanto pensar, não conseguia compreender absolutamente nada. Desconfio que era o tipo da pessoa que detestava não compreender direito as coisas.  

Levou um susto ao ouvir o barulho do porta-malas se fechando. Estava tão distraída tentando entender o que é que essas coisas esquisitas estão fazendo dentro de mim, droga!?, que aquele baque fez seu corpo estremecer.

Lia virou de lado. O pai e a mãe vindo em sua direção. Equilibrando bolsas, malas, travesseiros.  

- Vem logo, Lia! – chamou Maria Tereza ao se aproximar. – Está esperando o quê? Anda.

Um carro passou. Uma bicicleta. Um menino a pé.

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